sábado, 23 de fevereiro de 2008

Aparência

Hoje dei uma rebarbadela na barba, não a desfiz completamente pois sou incapaz de me olhar no espelho sem a penugem negra que me cobre a cara, apenas a aparei um pouco. Fiz isto porque a sociedade vive de aparências, embora eu não ligue a minima a isso, cansa-me o facto de cada vez que vou a um hipermercado ou a outra superfície seja perseguido incessantemente pelos Srs. Seguranças que me julgam pela aparência, dizendo os seus subconscientes "aquele gajo tem ar de ladrão, veio aqui para roubar" ou pior, julgando-me como um parente afastado do Bin Laden. Tou-me bem a cagar para eles todos e para quem julga as pessoas pela aparência, são gente fraca de espirito, a verdade é que aparei a barba porque já fazia muitas cócegas à Gaja do Rés-do-Chão Esquerdo, e ela tem a pele muito sensível.
Deixo aqui umas quadras de António Aleixo, que além de um grande poeta popular, era na minha opinião um grande observador:
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Sei que pareço um ladrão...
mas há muitos que eu conheço
que, não parecendo o que são,
são aquilo que eu pareço.
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Enquanto o homem pensar
que vale mais que outro homem,
são como os cães a ladrar,
não deixam comer, nem comem.
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Vemos gente bem vestida,
no aspecto desassombrada;
são tudo ilusões da vida,
tudo é miséria dourada.
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Porque o mundo me empurrou,
caí na lama, e então
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são.

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